Crónicas de uma escritora ambiciosa num mar de ilustres jornalistas


No início da minha primeira época de exames da faculdade, dei por mim a querer desistir do curso. Tive um conjunto de crises existenciais que me levaram a achar que aquele não era o meu lugar. Dei por mim num lugar estranho, desconhecido, a lutar pela sobrevivência (literalmente, porque sejamos sinceros, ninguém disse que tirar um curso universitário é fácil). Aguentei o meu primeiro ano. O segundo depressa chegou e, cá estou, a meses de entrar no último ano da licenciatura. Foi durante este que me percebi a minha verdadeira paixão, que sempre esteve presente. E (momento dramático), não é jornalismo! Sim, tive algumas insónias a pensar no assunto. O que me levou a concluir isto foi o período de negação em que estive este tempo todo. Neste segundo semestre, tivemos um trabalho (tem sempre que ser um trabalho, não tem?), que me aproximou do que é realmente fazer jornalismo. E agradeço a oportunidade, porque realmente fez-me perceber que jornalismo não é para mim. E está tudo bem.

Mas perguntam-se vocês: e agora, o que vais fazer com a tua vida? Perdeste três anos a fazer nada? Não. O curso ensinou-me imensa coisa. E, disclaimer, eu não odeio jornalismo, só não gosto imenso de escrever notícias... considero-as um atentado à minha criatividade... aliás, se me puserem a escrever uma notícia durante uma aula, o que acontece é muito engraçado (não é, mas é melhor rir que chorar), o meu cérebro bloqueia e abandona o meu corpo. Aconteceu inúmeras vezes... se me meterem a escrever um conto, uma crónica, um artigo de opinião, eu vivo para ele e sou capaz de me dedicar, de esquecer as horas e de desligar do mundo. Sou eu e o meu texto, apenas. Em perfeita harmonia.

Acho que a minha personalidade luta contra o jornalismo. Desde cedo somos ensinados que temos que ser imparciais e neutrais (os jornalistas da CM não são, mas enfim), ou seja, objetivos. E eu sou o contrário. Sonho durante o dia com todas as histórias que quero escrever e adormeço a pensar nelas. Agora expliquem-me, como é que alguém que está habituado a escrever livros, com tudo inventado, escreve algo imparcial e objetivo?

Eu gosto de ouvir as outras pessoas, mas também gosto de ouvir a minha voz. E sinto que os jornalistas não têm esse poder, porque mistura-se a vida profissional com a pessoal, não existindo um limite entre ambas... há um artigo no livro de estilo do Público que diz que o jornalista não se deve manifestar. Isso, na minha opinião, é incrivelmente estúpido. Porque o jornalista, antes de ser jornalista, é um ser humano. Alguém que acredita em alguma coisa, que apoia uma causa, que gosta de ouvir a sua própria voz e não apenas a das outras pessoas.

Eu quero ser a minha própria fonte. Ser capaz de pensar por mim mesma sem ter que ouvir a opinião de quem é considerado “importante” primeiro. E não, isto não é egoísmo. É aquela pequenina voz que todos silenciamos muitas vezes, por medo de falhar. Mas chega de medo. Chega de ter medo do futuro. Cheguei a uma conclusão importante: vamos todos para o desemprego e vamos, aliás, a fila deve ser mais longa do que para atestar o carro...(peço desculpa, frase errada), mas bem... eu não sei o que quero fazer quando for grande e está tudo bem. Porque prefiro viver na incerteza e depois ser feliz do que acordar um dia, em dívida e a questionar tudo. Quero ser feliz naquilo que faço. E se isso implica medo, receio, correr atrás dos meus sonhos de criança, então fazer-me-ei à estrada.

E quem me conhece, deve estar a perguntar-se: então, vais desistir do curso? Acham mesmo? O objetivo desta crónica escrita de rajada às três da manhã num telemóvel não é para provocar esse efeito dramático nas pessoas (para isso leiam o Correio da Manhã, não me responsabilizo pelos danos causados).

Eu não odeio jornalismo. Mas sou obrigada a escolher entre Multimédia, Assessoria e Jornalismo. No próximo ano. Na verdade, não estou indecisa, só não me imagino a escrever notícias um dia inteiro. E como é que escrever livros é diferente? , perguntam vocês.

A escrita criativa dá-me uma alegria que eu nunca imaginei ser possível. Permite-me comunicar com as pessoas, transportá-las pra um mundo bem distante da realidade. Quando escrevo, estou em sintonia com quem sou. Não sou a melhor escritora do mundo, mas desafio-me, assim que posso, a tentar sê-lo, a cativar pessoas, a provocar emoções. Escrever uma notícia é sentir-me presa, acorrentada à minha própria expressão. E eu compreendo o porquê de ser assim, porque o objetivo é informar.

Desde novos que traçamos um percurso para percorrer no futuro. Esse percurso não é obrigatório, é apenas um plano do que vamos fazer no futuro. Qual é o problema em mudar de rota, ou em abrandar? Ou em parar para pensar: é mesmo isto que me faz feliz? É isto que eu quero para o resto da minha vida? E é difícil, porque nos obrigam a escolher um curso no 10º para depois escolher um de área semelhante na faculdade. E depois, dentro de alguns cursos, ainda uma média para entrar no último ano (o que é estúpido até dizer chega...).

Se me pedem textos originais, cachas noticiosas, estão a pedir à pessoa errada. Porque não tenho vontade de as procurar. Sou capaz de escrever um poema enquanto a minha mãe faz uma panela de arroz, mas isso não interessa a nenhum órgão de comunicação. E sou desorganizada, desmazelada e preguiçosa (só às vezes). E orgulho-me de ser uma escritora ambiciosa num mar de ilustres jornalistas.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

O escuro monstro que habita dentro das nossas cabeças

Quem sou...

A magia dos filmes da Disney