O escuro monstro que habita dentro das nossas cabeças

A ansiedade é como um monstro escuro. Vive nas nossas cabeças, enclausurado e numa agitação profunda. Se ele se move, nem que seja um milímetro, é um tremor de terra que abala os nossos corpos. E o pequeno e invisível monstro tem fome. Alimenta-se de toda a luz que o rodeia. Sei disso porque me roubou a minha.

O monstro escuro que vive na minha cabeça tem vindo a crescer. E, quando digo aos meus pais eles respondem-me “isso controla-se”. Pois. E se lhes contasse sobre as noites de insônias? Sobre as noites em que os belos sonhos se transformam subitamente em negros pesadelos? Sobre o eterno medo do futuro que ainda lá vem longe, que vagueia em lentos passos, arrastando os pés?

Conto os segundos até ao seu próximo despertar, porque sei que ele está sempre lá. Adormece, às vezes. E depois desperta, de rompante, acelerando o meu pobre coração, gelando os ossos. São mil os pensamentos que dentro da minha cabeça entram em corrida, numa frustrada luta pela sobrevivência.

Ter ansiedade é como o relógio quase avariado que tenho lá em casa. Não conta o tempo a maior parte das vezes, mas, de repente, encho-me de esperança e olho para ele, para constatar que ainda funciona, que ainda não morreu. Mas por quanto tempo conseguirá permanecer assim?

Observo-me ao espelho. Estou rodeada de negrura, de escuras sombras. Tenho dias em que tudo sinto e dias em que um vazio estonteante me invade. Tenho a alma cansada e afogo os sonhos que me restam em lágrimas salgadas. A única coisa que me sobra são mãos cansadas, que escrevem versos para combater as insônias, para acalmar o bater deste acelerado coração. E faço da minha dor a minha arte. Mas para quem? Ninguém me ouve, ninguém entende. E ninguém quer saber.

A minha humanidade morre aos poucos. Tudo vejo e quase nada sinto. Quase nada quero. Não há nada nesta pobre vida que me seduza. Nada que eu possa querer, porque oiço o escuro monstro sussurrar “Nunca conseguirás nada”. E perco a minha esperança, esta bonita luz interior que dentro de mim brilhava apaga-se.

Os monstros só existem nas mentes das crianças. Debaixo da cama, dentro de um armário. Mas até mesmo as crianças param de acreditar quando os pais procuram por eles. Eu achava que os monstros só existiam debaixo das camas.

Acordo rodeada por uma escuridão inabalável. Procuro por alguém, até que reparo que estou sozinha. Uma pequena luz acende-se, não muito longe de mim. Penso duas vezes antes de começar a correr na direção dela. E eis que o chão debaixo dos meus pés desfaz-se em cinzas, em poeira, e a luz apaga-se. É tarde de mais.

Deitada no chão, entre pensamentos e pedaços da minha quebrada humanidade, reparo que perdi a minha voz. Nada me resta. A luz acende-se de novo, mas ignoro-a, porque sei que é uma armadilha. Outra luz acende-se, a alguns metros de distância. Levanto-me, assustada, não percebendo o que se passa. Outra luz. Até que consigo ver uma negra sombra que de mim se afasta, correndo pela sua vida. Não estou sozinha. E esse pensamento chega-me, por agora.

(Segundo o estudo Epidemiológico Nacional de Saúde Mental, 16,5% dos portugueses sofrem de perturbações de ansiedade. E isto são dados de 2013. A verdade é que doenças como a ansiedade e a depressão têm vindo a crescer em Portugal, atingindo cada vez mais os jovens).

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