O estranho sonho do sábado à noite

Ontem perdi os meus pais. Estávamos junto ao rio, olhando o horizonte, A praia estava cheia. Até que uma mulher apareceu, entregando algo aos meus pais. Quando dei por mim, eles tinham desaparecido. O meu irmão mais novo ficou mas nunca mais o vi. Nessa noite, adormeci ao som das ondas do mar, ouvindo os meus amigos chorar e os seus longos suspiros, contrastando com outros que reclamavam, proferindo palavrões. Também eu o tinha feito, horas mais cedo, para um mulher que nem sequer conhecia.

No dia seguinte, quando acordei, cansada e confusa, observei as ondas do mar. Até que, do nada, o que parecia ser um tsunami começou a formar-se. Acordei os outros, visivelmente assustada. Não havia por onde fugir. Dei por mim cá fora, com os pés na quente areia, enquanto o mar crescia como um monstro assustador. Como se fosse o fim do mundo. Corri até à casa em pânico, tentando abrir a porta.

As ondas batiam-me nas costas, com demasiada força. Agarrada a uma tábua, cheia de dor, consegui sobreviver. Os outros agarraram-se a mim e a casa manteve-se presa ao chão. Achei surreal, estranho. 

                                                                               *****

Acordei deitada no chão. Havia um bar, alguns metros à frente. Caras estranhas fitavam-me. Contei-lhes a minha história à espera que eles se rissem de mim, mas um enorme silêncio percorreu o bar.

Estava de volta ao meu quarto, até que uma mulher negra apareceu do nada.

- Tens que voltar - ela sussurou - o mar tocou-te, tens que voltar. Por favor, volta.
- Estava a sonhar - contei - era um sonho! Um estúpido sonho!
- Tens que voltar. O balanço da natureza. Preciso que restaures o balanço. - ela aproximou-se de mim, colocando as mãos na minha cabeça. Os olhos dela ficaram brancos. É a última coisa que me lembro.

                                                                                *****

De novo deitada no chão. A minha cabeça doía-me. Observei o sangue que escorria das minhas mãos para  chão. Ouvi uma voz e recuei, agarrando no tronco caído no chão para me defender. Um rapaz olhava para mim, com os braços levantados no ar.

- Não sou um deles! Eu juro!
- Onde estão os meus pais? O meu irmão? - questiono-o, apontando-lhe o tronco como se fosse uma arma.
- Não sei... juro-te!
- O tsunami? A mulher bruxa? Este sangue todo... foste tu?
- Não, só vim ajudar-te. - ele estendeu-me a mão e eu aceitei-a.

                                                                                *****

O monstro dentro da janela fitava-me. Comecei a correr, acreditando que não me ia safar desta. Fora da jaula, os outros fitavam-me, avaliando cada passo meu. Tinha que sobreviver. Plástico separava cada corredor, assemelhando-se a janelas. Fechei a última e o monstro permaneceu quieto. Como se tivesse cansado de correr. Até que começou a bater no plástico. Encostei as minhas mãos ao mesmo, sentindo um súbito calor debaixo delas. Comecei a rodá-las, em círculos, até que chamas saíram disparadas delas. O monstro afastou-se rapidamente. Conseguira sobreviver. Mais um dia naquele inferno.

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